Conhecer e entender o funcionamento do corpo humano é um ponto fundamental para a evolução de seu condicionamento. Diante de uma planificação do consumo energético, torna-se mais fácil a elaboração de um programa de gasto calórico e até de nutrição para atender às demandas específicas do atleta e possibilitar uma preparação que não acarrete uma perda de rendimento no longo prazo.
Um mesmo problema em dois atletas pode ter origens absolutamente diferentes. Há várias possibilidades de desequilíbrios que podem afetar o corpo humano de uma mesma maneira, e por isso o estudo da bioquímica corporal é cada vez mais importante. Uma análise precisa sobre os processos químicos de um atleta é a base para a criação de um treinamento totalmente individualizado e eficiente.
Durante o exercício físico, aumenta o consumo muscular de ATP e oxigênio. Além disso, o aporte de oxigênio pelo fluxo sangüíneo muscular diminui por conta da contração muscular e da conseqüente diminuição de espaço nos vasos que nutrem a musculatura.
Para se proteger da queda no aporte de sangue, o músculo tem um estoque de oxigênio na mioglobina, uma proteína que contém ferro hêmico. Já a proteção contra o déficit de ATP compreende mecanismos de geração anaeróbia de ATP, que pode ser feita por meio de creatina-fosfato (primária) ou de fermentação láctica (parcial).
Problemas nesses processos de fornecimento de ATP e oxigênio podem ser decisivos para as lesões. Por conta disso, a bioquímica tem a responsabilidade de acompanhar o andamento das reações químicas no organismo de forma multidimensional, com a possibilidade de encontrar disfunções no equilíbrio fisiológico e até de prevenir problemas físicos.
O trabalho da bioquímica no esporte de alto rendimento compreende a realização de exames preventivos que podem ser complementares ou até antecipar o resultado de diagnósticos pelos meios tradicionais. Por conta disso, é importante que a bioquímica tenha uma atuação interdisciplinar nas comissões técnicas, com suporte a disciplinas como a fisiologia, a preparação física e a nutrição.
Um atleta que tem dieta rica em proteínas, por exemplo, pode ter problemas de desidratação por conta da falta de carboidratos. Portanto, uma análise bioquímica pode concluir que o alto consumo de água não é suficiente para evitar que ele tenha uma queda de rendimento.
A energia contida nos alimentos é medida em calorímetros, que são aparelhos destinados a avaliar o calor ou energia de combustão da soma de CO2 e H2O. Nesses aparelhos, carboidratos geram 4 kcal/g e gorduras fornecem 9 kcal/g.
O consumo de carboidratos é contínuo, mas os estoques corporais são limitados a menos de 1% da massa corporal e a síntese de glicose é feita a partir de proteínas (glicogênese). A depleção do glicogênio do fígado causa hipoglicemia e a depleção do glicogênio muscular causa fadiga muscular.
As gorduras são oxidadas por via exclusivamente aeróbica. A metabolização da gordura gera corpos cetônicos, Cetose e até cetoacidose. A oxidação da gordura consome mais de 400 ATP por molécula de gordura metabolizada.
Todo esse conhecimento acerca do fornecimento de energia para as células só é possível por conta do desenvolvimento da bioquímica. Portanto, essa área acaba funcionando como um suporte importante para a manutenção do bom rendimento e do bom desempenho dos atletas.
Contudo, o meio do futebol ainda tem certa resistência quanto à bioquímica. Por ser uma área extremamente nova, existe uma distância entre o que é produzido nas universidades e o que é apresentado nos clubes, normalmente defasado. Além disso, a diferença de discurso entre os dois setores corrobora esse distanciamento entre o acadêmico e o prático.