segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ney Franco: o desafio de se mudar a mentalidade dos jogadores desde as categorias de base



"A maioria das equipes conta com jogadores que têm colocado os seus interesses à frente do time. A coletividade tem de imperar”, afirma coordenador
Guilherme Yoshida*
Quase dois anos na função de coordenador das categorias de base da CBF e treinador da equipe sub-20 da seleção brasileira, Ney Franco sabe que ainda está muito longe de conseguir todas as mudanças que pretende fazer no futebol brasileiro.
E, apesar dos títulos do Campeonato Sul-Americano (que rendeu a classificação do Brasil para a Olimpíada de Londres) e do Mundial sub-20, o técnico com passagem por clubes como Coritiba, Botafogo, Atlético-PR, Flamengo, Atlético-MG, entre outros, aponta que o novo projeto de desenvolvimento de novos talentos deva render frutos somente após a Copa-2014.
Em entrevista à Universidade do Futebol, Ney Franco admite que o Brasil ainda conta com muitas falhas conceituais e estruturais no processo de detecção e treinamento das jovens promessas.

Porém, ele afirma que o grande desafio que tem à frente do futebol de base do país é a mudança na cultura e na mentalidade dos jovens atletas. O treinador explica que os jogadores formados em terras brasileiras ainda não se dedicam e não estão focados no trabalho como acontece em outros países.

“O nosso grande desafio é modificar a cultura dos nossos atletas. Vejo que ainda não há um compromisso com o jogo em si e com o clube. A maioria das equipes conta com jogadores que têm colocado os seus interesses à frente do time. A coletividade tem de imperar”, afirma.

“Os nossos jogadores não tomam as melhores decisões, o que pode fazer com que os clubes percam uma classificação, por exemplo. Os atletas não fazem as melhores jogadas porque querem ser os heróis da partida. Isso pode atrapalhar o investimento do clube. Por isso, devemos começar lá de baixo essa mudança. Precisamos desenvolver uma geração mais consciente”, completa. 
Para Ney Franco, este comportamento inadequado das promessas no futebol brasileiro é uma das razões para o fato de países como Alemanha ou Espanha, que têm um terço na nossa população, conseguirem atualmente revelar mais talentos do que o Brasil.

“Acho que eles estão preparando melhor os atletas por um conjunto de fatores: melhor estrutura, melhores conceitos de treinamento, investimento, enfim. Mas não é só isso. Os jovens jogadores lá [Europa] estão mais focados no trabalho. E isso faz muita diferença”, analisa.

Ney Franco aponta ainda que os clubes deveriam ter um papel mais importante neste processo de detecção e desenvolvimento das categorias de base. Por isso, o treinador e coordenador da seleção pretende estabelecer uma relação mais próxima entre os clubes e a CBF.

Para ele, ainda é necessário haver uma padronização nos métodos de treinamento e na forma de trabalho como um todo para que o Brasil melhore a sua formação de talentos.

E, no próximo dia 25 de abril, Ney Franco e integrantes das categorias de base da CBF darão o primeiro passo nesse sentido. Eles promoverão o 1º Seminário do Futebol Brasileiro de Base, no qual coordenadores de diversos clubes se reunirão para discutir estes assuntos. Posteriormente, Ney Franco pretende conversar com os técnicos.

“Em qualquer área você tem profissionais mal capacitados. Então, acho que as agremiações deveriam dar um suporte no aprimoramento dos seus profissionais. Proporcionar uma reciclagem a eles. Os próprios clubes poderiam criar um veículo para aprimorar o treinador. O momento é de debate de todos esses temas”, finalizou. 
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