Certos fenômenos precisam ser observados por um tempo, que tem que ser o tempo do 'próprio fenômeno', e não o tempo que nós damos a ele
A preparação física no futebol vem evoluindo e sofrendo constantes transformações desde que passou a ser formalizada nas sessões de treinamento das equipes. No mundo todo, a organização do processo de treinamento desportivo também passou por modificações, que, de certa forma, influenciaram as transformações que se refletiram no futebol.Recentemente, o responsável pela preparação física da equipe do FC Barcelona, Francisco Seirul-lo Vargas (está lá, nesse trabalho, desde 1994), em um congresso na Espanha, surpreendeu a todos (ou quase todos), e, inclusive ao renomado cientista do treinamento Jurgen Weineck – presente no evento –, em sua explanação, mostrando que em sua equipe os treinamentos “físicos” são realizados de maneira integrada aos objetivos do treinador e são elaborados para contribuir com a construção do modelo de jogo adotado pelo FC Barcelona.
Seus treinos, então, pautados no jogo a ser jogado, distinguem-se do que tradicionalmente são adotados como modelo, meios e métodos de treinamento. As avaliações dos jogadores são qualitativas, realizadas no próprio jogo. Não há RASTs, Yo-Yos, testes de velocidade de limiar de lactato, altura de salto, etc., etc., etc. A melhor avaliação – parafraseando alguns presentes no evento –, é o futebol apresentado e o resultado dos jogos.Claro, isso não quer dizer que devamos parar tudo, jogar fora décadas de treinos, e começar novamente de outro jeito.
É inegável que métodos tradicionais têm conquistado grandes resultados – isso é um fato. O que quero destacar é que, primeiro, para a contextualização de um mesmo problema, caminhos diversos podem ser adotados como solução, e, esses caminhos, em curto e médio prazo (ah, o tempo!), podem não apresentar diferenças aparentes nos resultados obtidos; segundo, já faz algum tempo que um grupo (pequeno) de pessoas aqui no Brasil (treinadores de futebol, professores, cientistas) está apontando para o caminho descrito pelo preparador físico do FC Barcelona (inclusive com maiores avanços em algumas coisas), mas como o bom capital simbólico dessas pessoas está concentrado em alguns poucos nichos, a informação acaba não se disseminando.Sobre o primeiro “destaque”, quero dizer, apoiado em um Prêmio Nobel, o pesquisador Ilya Prigogine, que certos fenômenos precisam ser observados por um tempo, que tem que ser o tempo do “próprio fenômeno”, e não o tempo que nós damos, sem saber, para ele.
Então, se por enquanto, aparentemente, caminhos diferentes têm levado a bons resultados, aguardemos pelo que virá – e aos meus olhos, ao menos o jogar do FC Barcelona já me parece bem diferente de alguns outros.Sobre o segundo “destaque”, quero dizer, que façamos essa forma diferente da tradicional, de pensar a preparação desportiva, atingir rapidamente os alvos certos (os nossos treinadores de ponta, os preparadores físicos, os dirigentes). Nossos “pensadores da práxis” precisam ser ouvidos. Não dá para esperar o FC Barcelona ganhar mais um jogo (porque tem gente que vai acreditar, que o problema são só as “cifras”).Então, pessoal, falem para o Juca (o Kfouri), quem sabe ele escuta, e convida um deles para uma entrevista na ESPN; ou então falem ao Jô (o Soares, para uma conversa inteligente), o Trajano, o Tostão, sei lá...Só não me venham com o Galvão...
Rodrigo Azevedo Leitão
rodrigo@universidadedofutebol.com.br
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