Não dá para evitar: depois das festas de fim de ano em que banquetes são preparados com todo carinho, o peso na consciência e a própria saúde obrigam todos a começarem o novo ano com um plano para perder peso. Por isso mesmo, reiniciar o regime ou praticar mais esportes são geralmente as medidas adotadas nos primeiros dias de janeiro.

A situação não é diferente com os jogadores de futebol, já que muitos deles voltam aos treinos com alguns quilos a mais depois do Natal e do Réveillon. Alguns são mais propensos que outros a ganhar peso, e por isso determinados clubes resolveram assumir uma postura mais ativa sobre o assunto.

O Corinthians, por exemplo, reuniu os jogadores antes das férias e entregou um plano alimentar personalizado para cada um a fim de que o tempo longe dos gramados tivesse o menor impacto possível sobre a condição física. Em comum entre todos os planos, uma coisa: não ingerir muitos carboidratos, especialmente à noite. Além disso, o preparador físico recomendou a participação nos famosos amistosos de fim de ano, porque assim os jogadores trabalhariam um pouco da parte física e queimariam os excessos. Se o projeto funcionou, saberemos em breve.

Punições
Outros clubes são ainda mais rígidos e decidem punir financeiramente os jogadores menos controlados. Há um ano, o Frankfurt da Alemanha radicalizou: cada atleta passou a ter meio quilo de tolerância em relação ao peso ideal. Acima disso, cada cem gramas extras custariam uma multa na mesma quantidade de euros. E ai de quem passasse dois quilos — o sobrepeso custaria simplesmente três mil euros.

Porém, o relacionamento entre jogador e comida precisa ser regulado durante o ano todo, pois o rendimento no trabalho depende diretamente da forma física. A briga com a balança é mais dura depois das férias ou nos períodos de lesão, quando a inatividade reduz a queima de calorias. Não à toa, o sul-africano Benni McCarthy teve de pagar caro, 80 mil libras ao West Ham no início desta temporada depois de descumprir os prazos definidos para alcançar o peso ideal.
Não é fácil resistir às tentações da mesa e, por isso, é compreensível o ataque de rebeldia do atacante inglês Carlton Cole diante do controle rígido do treinador Fabio Capello. No lugar do peixe com fritas e ketchup, o italiano decidiu implantar uma dieta mediterrânea para os seus comandados da seleção inglesa. "Era de morrer", relembra Cole. "Eu precisava de algo na massa e, em uma das viagens, levei um saquinho de molho, mas não voltarei a fazer isso."
Na Copa do Mundo da FIFA 2006, o treinador alemão Jürgen Klinsmann foi menos estrito. Ele pediu que os jogadores mantivessem uma dieta saudável, mas sem proibições em excesso. Assim, Lukas Podolski não deixou de comer o eventual saquinho de batatas fritas que ele tanto gosta, mas tratou de correr em dobro para não ter problemas mais tarde.
Luxo na concentração
A comissão técnica da Espanha também não parece pegar tanto no pé dos jogadores. O capitão Iker Casillas conseguiu até mesmo convencer os médicos de que alguns hambúrgueres em dia de festa não fariam mal. Na verdade, os espanhóis têm poucos motivos para reclamação, já que contam com um maestro dos fogões há cerca de 20 anos: o cozinheiro Xabier Arbizu trabalha diretamente com a equipe médica para oferecer um cardápio saudável sem deixar de lado o toque saboroso da cozinha do norte da Espanha.
"É necessário ensinar o jogador de futebol a comer desde pequeno", diz o cozinheiro, que já trabalhou com as seleções sub-17 e sub-20. "Muita massa, verduras na grelha. A comida se repete muito. Os jogadores preferem carne de gado e frango. As sobremesas e frutas, sempre descascadas, também aparecem bastante. Para as comemorações especiais em casa, eu recomendo um bom peixe grelhado ou ao vapor."

Novos tempos
O futebol está cada vez mais profissional, e ninguém deixa nada ao azar. Especialistas nas mais diversas áreas analisam e planejam tudo o que está relacionado ao jogador, e não é raro ver um psicólogo ou nutricionista trabalhando na comissão técnica. O treinador Vicente del Bosque, que foi jogador profissional na década de 1970, conhece bem a evolução.
"Os hábitos mudaram", diz o técnico da Espanha. "Antes nós comíamos quase de tudo, mas agora os jogadores quase não fogem do que é mais conveniente e estão mais conscientes, o que é absolutamente necessário para as exigências do futebol atual e fundamental para o rendimento individual. Precisamos considerar a nutrição uma parte a mais do treinamento. Hábitos corretos de alimentação permitem treinos intensos e um melhor rendimento."

Mesmo dentro da rigidez recomendada aos jogadores de elite, sempre fica uma margem para os gostos mais pessoais, e Arbizu não deixa de mimar os garotos da seleção. "Pepe Reina gosta da carne praticamente crua, e Gerard Piqué gosta bem passada", revela. "Mas não há esquisitices, porque o médico define uma linha e é necessário segui-la."